vikings
º Por Danielle Magno ~ 23 ABRIL 2018
Já tem um tempo que as pessoas tem dado uma chance a outros tipos de filme pelo mundo, saindo do esquemão mainstream americano. O cinema asiático, árabe, e é claro, o cinema europeu, que ganhou fama de ser “de arte”, graças as escolas italiana (neorrealismo), francesa (nouvelle vague) e a inglesa, que vai de dramas históricos a comédia nonsense.
Mas nos último anos, o cinema escandinavo retornou a grande forma. Nos anos 60, era Igmar Bergman, da Suécia, quem ditava o cinema de autor, ele criou Persona (1966), O Sétimo Selo (1957), Morangos Silvestres (1957), e tudo que a gente acha avant guard ainda nos dias de hoje.
Mas foi um pequeno reino, com a má fama de, na obra de Shakespeare, matar Hamlet, a Dinamarca, que consolidou o cinema de autor.
Nos anos 90, surgiu na Dinamarca o movimento Dogma, que criava umas regrinhas a favor do cinema sem firulas, os diretores Thomas Vinterberg e Lars von Trier brincaram com isso por um tempo. Há quem ache uma coisa pedante. Há quem ame. O fato é que o movimento Dogma mostrou a relevância do cinema escandinavo e colocou Noruega, Suécia e Dinamarca, no mapa do cinema indie (pra quem dormiu nas aulas de geografia). A Suécia nos anos 2000 trabalhou com best sellers e transformou a trilogia Millennium em filmes. Bem comercial, coisa que não é comum no cinema do país. Já a Noruega têm filmes mais reflexivos e alguns com maneirismos americano.
Parte do sucesso do cinema escandinavo, sobretudo Dinamarquês, vem de políticas de incentivo do governo (alô, neoliberal, no 1º mundo o Estado intervém para o bem social…), lá, os realizadores são prestigiados e constantemente incentivados, são mais de 100 salas de cinema, num país com pouco mais de 5 milhões de habitantes, e a maioria em cartaz são filmes dinamarqueses, sem precisar usar o recurso de cota, o povo vai e compra ingresso para ver o produto nacional na maior boa onda.
Com esta política de incentivos e abraço do público, surgiu uma pá de gente talentosa, entre diretores, roteiristas e atores. E principalmente, temas variados e complexos, acreditando na inteligência e capacidade de reflexão do seu público.
Além dos diretores do Dogma, outro nome de destaque na filmografia dinamarquesa é Nicolas Winding-Refn, que dirigiu o filme mais cool de Ryan Gosling, Drive (2011). Mas o que eu curto mesmo em Refn é que ele lançou para o mundo um dos meu atores favoritos, Mads Mikkelsen, sim, tão dinamarquês quanto ele, aos 30 anos, Mikkelsen, então um bailarino, participou de Pusher (1996), filmão. Até na Dinamarca tem tráfico de drogas, e essa é a premissa do filme. Violento e cru. Virou trilogia.
Mas foi em A Caça (Jagten, 2012) que Thomas Vinterberg, Mads e a Dinamarca mostraram força e valor. Mikkelsen venceu a Palma de Ouro em Cannes com a performance silenciosa, terna e triste de Lucas, um homem acusado de abuso sexual contra uma criança. Filme pesado, denso, um relato daqueles sobre histeria coletiva. Para nós, latinos, a passividade de Lucas chega a incomodar, mas o próprio ator e diretor revelaram que tudo ali é muito característica do homem nórdico.
Mikkelsen antes mesmo de A Caça já tinha dado seus passinhos por Hollywood, estreou uma bomba que foi o remake de Fúria dos Titãs (2010), que a gente assiste porque ele está uma delícia (** objetificação masculina detectada) e um vilão meia-boca do 007 pedreiro, Daniel Craig (Cassino Royale, 2006). Vilões, inclusive, se tornaram a especialidade do ator, muito pelo seu porte físico e suas feições com ar cruel e frio.
Apesar de ter feito parte das maiores franquias do planeta, Star Wars (Rogue One, 2016) e Marvel (Doutor Estranho, 2016), Mikkelsen sabe diversificar seu trabalho, é considerado o melhor ator na sua terra natal, e trabalha com diretores pelo mundo afora, já fez filme espanhol, alemão, francês e ano que vem sai Artic, do diretor brasileiro radicado nos EUA, Joe Penna. Na TV, Mads foi a melhor versão de Hannibal Lecter (Hannibal, 2012-2014), de Brian Fuller, fazendo a gente esquecer que um dia Anthony Hopkins foi dono do papel.
Mas para a gente ficar no tema, toma aí os melhores filmes que Mikkelsen fez na Dinamarca:
ºº A Caça (2012)
ºº O Amante da Rainha (2012) : Junto com outra estrela escandinava, a sueca Alicia Vikander , mostra um adultério que mudou a Dinamarca, tornando-se um país pioneiro no fim da escravidão, tortura e privilégio de nobres.
ºº Entre o Bem e o Mal (2005) : Um padre e um neonazista mostrando como é possível a redenção e como o ambiente ajuda a construir ( ou desconstruir, vá lá) um homem.
ºº Depois do Casamento (2006) : Mads é um voluntário que trabalha numa ONG na África e tem uma escolha de peso filosófico a fazer. Drama que discute família e desapego como poucos.
Agora se é para seguir e confiar num diretor dinamarquês fiquem com Thomas Vinterberg, constância, densidade, humanismo, sem petulância e anos luz na frente de Von Trier. E o filme chave é Festa de Família (2010).